Habemus Papam Emeritus
Uma
reflexão sobre a Renúncia e o Recolhimento de Bento XVI
Nossos olhos e nosso coração se voltaram neste dia para a Sede de nossa
Igreja: Roma. De lá nos vieram imagens, depoimentos e relatos sentimentais e
até mesmo do que a renúncia de Bento XVI significou ou significará para a todos
nós, participantes da vida de Cristo.
Não quero fazer uma análise sobre o que os jornais, os não católicos, os
não seguidores estão dizendo por ai. Quero simplesmente olhar para o gesto
humano e divino assumido pelo nosso papa emérito.
No ministério petrino, sua principal função é fazer a ponte, por isso,
pontífice, uma missão e uma tarefa assumida diariamente, com os limites do seu
corpo, procurava revelar o caminho de Deus a todos que estavam diante de sua
pessoa.
Levar a outra margem parece-me ter sido a grande tarefa de Bento XVI
neste período de exercício petrino. Superando os rótulo colocados pela imprensa
por ocasião de sua eleição, colocava-se como um operário da vinha do Senhor,
isto é, assumia a responsabilidade de cultivar no coração da igreja, o desejo
de estar sempre produzindo frutos para a Salvação de todos.
A inteligência como dom de Deus fazia com que Bento XVI expressasse que
um caminho a ser assumido pela Igreja, seria, de mergulhar nos mistérios de
Deus, com a capacidade racional e fazer dela um lugar espiritual para degustar
do mistério divino.
No centro deste lugar espiritual estava sempre o Cristo
Humano-Sofredor-Crucificado mas acima de tudo Ressuscitado. Recordo-me que nos
primeiros discursos, já apontava: Cristo ao centro. Descobrir o caminho de
Cristo sempre foi a missão dos discípulos e consequentemente nossa hoje como
Igreja.
A atitude de Bento XVI demonstra toda responsabilidade que temos em
fazer-se participante da vida de Jesus Cristo, não apenas como um mero
espectador, mas como um efetivo discípulo do Mestre que caminha a frente,
guiando seu rebanho.
No caminho que se percorre temos a possibilidade de descobri quem de fato
somos. Talvez a atitude profética de Bento XVI ajude a Igreja Institucional,
Povo de Deus, Templo do Espírito Santo, Sacramento Universal de Salvação a
redescobrir sua essência de esposa de Jesus Cristo.
O seguimento de Jesus Cristo, se dá na alegria e na tristeza. É um
vinculo matrimonial nossa relação com a Igreja. Deste modo, o sofrimento humano
assumido pelo nosso Papa Emérito, demonstra, que os frutos provenientes de um
sofrimento é senão a tranquilidade da consciência. O sofrimento humano,
assumido como participante do sofrimento de Jesus Cristo, demonstra que nossa
relação não é apenas emotiva, mas efetiva e construtiva.
Bento XVI, deu um exemplo de como é necessário assumir a seriedade do ser
Igreja. Em outras palavras diria: a simplicidade, ou no português claro, como
costumamos dizer, o Papa acanhado, introvertido, deu-nos uma lição de que a
introspecção é ainda um caminho que onde se constroem as grandes decisões na
vida. Associo esta decisão ao martírio dos primeiros cristãos.
As gotas da renúncia poderão ser compreendidas aos poucos. Uma coisa é
certa, precisamos amadurecer com esta atitude que desacomodou muitos, sejam
ministros ou membros do povo de Deus.
Os reflexos da renúncia ainda nos levam a entender o que significa
abraçar a Cruz de Cristo. Ser Católico não é fácil, quando se quer carregar o
madeiro do qual jorrou sangue e água para nossa Salvação.
As palavras de Bento XVI neste último dia, queriam expressar um gesto de
agradecimento, ou ainda, parecia-me que aquele Pai, queria deixar seus filhos
um pouco mais tranquilos e ao mesmo tempo, provocados a amar cada dia mais o
Cristo.
Confesso que por ocasião de sua eleição, foi difícil enxergar o cardeal
da Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé, como sumo Pontífice. Mas ao longo
do caminho, fui admirando seu modo de ensinar-me a enxergar Deus na
profundidade de suas reflexões teológicas. Sentia-me provocado a não querer apenas
o básico, mas ir além, como um peregrino que não se cansa de olhar para o
horizonte e percorrer as estradas da vida.
Bento XVI ensina a Igreja humana e lembra-se de que Ela é Divina. Somos
apenas instrumentos operados pelas mãos divinas e orientados pela bondade
trinitária. “A barca é do Senhor”, dizia em um dos seus discursos finais.
Envolvidos pelo ativismo da sociedade estávamos esquecendo de nossa natureza
divina.
Aprendo com nosso Papa Emérito a recolher-se para tomar as grandes
decisões, a subir a montanha do Senhor, a navegar para águas mais profundas, a
ter a consciência de que somos participantes da barca do Senhor, é Ele o
condutor. Fechar-se a ação do Espírito Santo, é confiar apenas no humano, e
para isso, basta recordar o texto bíblico de hoje: “maldito homem que confia no
próprio homem”.
Renovemos nossa convicção. A Igreja precisava deste “baque”, para
redescobrir a sua dinâmica evangelizadora.
Somos todos peregrinos em busca da Jerusalém do Alto. Bento XVI um dia
esteve a frente desta peregrinação, hoje, ele junta-se a nós.
Rezemos por cada um de nós, por aqueles que sao fracos na fé e que
absolvem toda e qualquer informação desnecessária ou desqualificada. Oremos
para que a humanidade cardinalícia escancare seu coração e sua consciência para
que o espirito Santo, continue dizendo, que a Igreja é humana, mas acima de
tudo ela é Divina!
Padre Kleber Rodrigues da Silva
Pároco da Paróquia São José Operário
Caçapava- SP