26/09/2011

Mês da Bíblia?????



A Igreja no Brasil celebra no contexto pastoral os chamados "meses temáticos", temos o vocacional, da bíblia, das missões. Setembro é por excelência dedicado a este livro tão especial.
Neste artigo desejo refletir sobre a liturgia da Palavra em nossas celebrações, bem como o exercício do ministério de leitor e as consequências na vida.
A celebração eucarística é composta de duas grandes mesas: a palavra e a da eucaristia, no entanto, ambas constituem um só culto ao Pai, como nos lembra a Sacrosanctum Concilium.
A caminhada litúrgica de nossas comunidades tem procurado descobrir que a Mesa da Palavra vai além do simples ato de que “alguém” se dirige a ela para repetir um texto que se encontra num livro.
Já nos lembram os diversos documentos da Igreja de que muitos tem acesso a fé simplesmente por aquilo que escutam e não é a toa que a primeira mesa da celebração eucarística, é a Palavra. Ali anunciamos a história da salvação, com palavras, que será expressa nos sinais sacramentais na mesa da eucaristia.
A profundidade da mesa da Palavra deve chamar nossa atenção e questionar nossas atitudes diante do exercício do ministério de leitores. Em um artigo recente chamava a atenção para o fato de que viver a liturgia não consiste simplesmente em “colocar uma veste”, mas exige espiritualidade. Participar da mesa da palavra, enquanto proclamadores da Boa Nova, se encaixa neste mesmo contexto. O abismo que existe entre o ato de proclamar e a intimidade do leitor com a palavra, não é pequeno. Ainda não conseguimos associar que a Palavra de Deus é uma fonte de espiritualidade que traz resultados claros e significativos no modo de proclamar nas celebrações.
De quem é a culpa? Acredito que de todos. Mas não estamos aqui para encontrar culpados. Podemos recomeçar e traçar um caminho de formação que provoque esta percepção de que a palavra faz parte de nossa história diária.
Por isso, celebrar o mês da bíblia, não consiste em apenas preparar a entronização do livro sagrado, um belo altar. Este mês deve questionar de uma forma geral, como a pastoral litúrgica tem cuidado desta preciosa mesa da Palavra. O cultivo da espiritualidade dos leitores, as melodias dos salmos, por parte dos ministros ordenados, o preparo das homilias. É ir além. Preparar um altar para a bíblia, fazer a entronização é fácil e por isso, muitos preferem ficar só nisso. O difícil é ter o hábito de sentar, meditar a leitura, se preparar e com atitude espiritual exercer o ministério no dia em que está escalado.
Outro elemento que precisamos cuidar durante o exercício do ministério de leitores,  é estarmos atentos para participarmos da mesa da eucaristia, ou seja, comungar na celebração que estamos exercendo o ministério. É tão esquisito (essa é a impressão que tenho), perceber que exercem um trabalho de comunicar a palavra, mas não preparam o coração para acolher o Cristo, feito palavra que acabaram de anunciar. Estes ruídos litúrgicos devem chamar nossa atenção para entender a ação litúrgica é sinal sacramental, isto é, passa por cada um de nós. Enquanto estivermos achando que estamos apenas cumprindo uma escala, nossa ação evangelizadora estará muito distante do proposto pelo Cristo.
Temos milhares de fundamentos que trazem para nós todo significado da mesa da Palavra. Sabemos da teoria. É preciso agora cuidar da prática. Por isso cada leitor deve sentir-se provocado neste “mês da Bíblia” a fazer uma autoavaliação. Da parte dos responsáveis (ministros ordenados e coordenadores) oferecerem oportunidades para o cultivo da palavra além das celebrações eucarísticas. A exortação pós-sinodal Verbum Domini, as Diretrizes da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil 2011-2015, chamam nossa atenção para que cuidemos de tal significativo ministério presente em nossas comunidades. Que o mês de setembro seja uma oportunidade para fazer crescer em nossa prática litúrgica, o Cristo que anunciamos.

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