Amigos e Amigas partilho com vocês uma Mensagem que dirigi a uma família de amigos que celebraram a pouco a perda de um ente querido.
Ser Igreja Peregrina em união com a Igreja Celeste
A primeira vocação que Deus Pai semeou dentro de nós, foi o chamado a santidade. Alcançar este estado de espírito deve ser a busca humana durante sua vida. Tal iniciativa faz manifestar a alegria no coração divino. Alcançar (ou buscar) a santidade não é algo fácil, também se o fosse não haveria esforço de nossa parte. Nesta busca é preciso renunciar a si mesmo, tomar a cruz de cada dia e seguir o Cristo.
Seguir o Cristo! Eis uma tarefa que nos coloca a caminho, ou ainda, no caminho, na verdade e na vida. Colocar-se a caminho é percorrer nossa história existencial marcada por relações, por chegadas, por partidas, por vida, por morte, por alegria, por tristezas e por tantos outros elementos que poderíamos aqui descrever.
Na busca pela santidade, é necessário também colocar-se numa vida eclesial, pois o discípulo só pode ser discípulo vivendo em comunidade; basta recordar Tomé, que fora dela não conseguiu reconhecer o ressuscitado.
Vida eclesial? Sim, vida de Igreja, na Igreja e como Igreja. Inseridos nesta dinâmica, somos um povo peregrino que caminha nas estradas da vida rumo a Jerusalém do Alto, aos campos verdejantes que nos fazem repousar na eternidade de Deus.
A vida eclesial impulsiona nosso desejo de querer ser santos, pois a Igreja na sua identidade deve ser sinal sensível, visível, sacramental da Salvação. Buscamos e devemos ser sinais da salvação. Sentir-se peregrino nesse caminho, é olhar para trás de nossa história e reconhecer que alguém, algum dia, apontou-nos essa estrada. Quem seria (m) esse (s)? Certamente foram nossos pais que nos deram as coordenadas para adentrar ao caminho que leva para a vida eterna. Como fizeram isso? Levando-nos um dia a fonte do Batismo, onde lavados do pecado original, restaurados e marcados com o selo indelével, tornamo-nos participantes do Corpo Místico de Cristo, co-herdeiros da salvação e convidados ilustres do banquete da vida, no qual chegamos como ovelhas conduzidas pelo bom e eterno pastor.
Mas enfim, queremos alcançar o céu, por isso, somos uma Igreja peregrina em comunhão com a Igreja celeste! Nesta solidariedade de fé, percebemos que a vida têm sua dinâmica e essa não para, é movida pelo Espírito Santo. Com isso, a plenitude de nossa existência está na plenitude de Deus. A realização humana atinge seu ápice quando se torna pó e volta às mãos daquele que um dia nos tomou pela mão e soprou sobre o Ruah, o hálito de vida. Diante da morte, este espírito nos é tirado e volta para a fonte: Deus em sua majestade.
Nós peregrinamos, “até que o Senhor venha em sua majestade e com Ele todos os anjos e, destruída a morte, todas as coisas Lhe forem sujeitas, alguns dentre seus discípulos peregrinam na terra, outros, terminada esta vida, são purificados, enquanto que outros são glorificados, vendo claramente o próprio Deus trino e uno, assim como é.” (Lumen Gentium 49).
Imaginemos a alegria de Deus em ter eternamente ao seu lado cada um de nós! Ele nos acolhe com o abraço paternal e nos convida a entrar para o gozo eterno. Enquanto existimos, podemos sentir um pouco do que significa este abraço, quando abraçamos e somos abraçados por nossos pais, por nossos amigos! No momento da dor, é tão significativo este abraço de Deus através daqueles que vivem o momento da perda e da dor, por isso, não deixe de abraçar, pois este gesto transmite a presença de Deus. Abrace os seus filhos, netos, parentes e amigos.
A fé nos ensina a crer na Ressurreição e a buscá-la enquanto peregrinos! Trata-se de uma conquista ou um objetivo fundamental na existência humana. Basta comparar: ficamos extremamente realizados quando concretizamos um objetivo na vida, seja profissional, familiar ou pessoal. Hoje podemos dizer, que devemos nos alegrar pelo nosso irmão Amilton, que conseguiu concretizar na sua vida a participação na vida eterna! Não se trata de uma realização passageira, trata-se da eternidade, onde não existe mais dor, sofrimento, apenas a alegria de estar sob a proteção do nosso criador.
Ser Igreja peregrina é acreditar que temos este propósito de vida. Estes dias da novena ajudaram-nos a entender que a morte não é o fim, mas o nascimento para a eternidade. Percebemos que a morte não corta nossa relação com nossos entes queridos: “a união dos que estão na terra com os irmãos que descansam na paz de Cristo, de maneira nenhuma se interrompe, ao contrário, conforme a fé perene da Igreja vê-se fortalecida pela comunicação dos bens espirituais. Pois, pelo fato de os habitantes do céu estarem unidos mais intimamente com a Igreja, enobrecem o culto que ela oferece a Deus aqui na terra e contribuem de muitas maneiras para sua mais ampla edificação. Porquanto recebidos na pátria e presentes diante do Senhor, por Ele, com Ele e n’Ele não deixam de interceder por nós junto ao Pai” (Lumen Gentium 49)
E o peregrinar nunca é completo, sem a presença de uma Mãe. Do alto da cruz, Jesus entregou a Igreja, a maternal proteção da Virgem Maria. Na caminhada das primeiras comunidades ela estava lá, perseverante no ensinamento dos apóstolos, na fração do pão, na oração e correção fraterna (cf. At 2,42). Ela se coloca ao nosso lado. Ela está conosco, apontando-nos e ensinando-nos a contemplar o seu Filho, o Ressuscitado que está sentado a direita de Deus Pai e conosco diz: Maranathá, vem Senhor Jesus!
Caríssimos, ser Igreja Peregrina é encontrar em cada amanhecer a razão em buscar a vida eterna. Um dia, Jesus perguntou as irmãs de Lázaro: Crês isto? Hoje, ele pergunta a nós. Sabemos as respostas de Marta e Maria. Queremos confirmar a nossa. Nosso irmão acreditou e hoje faz parte da festa da eternidade. Lembre-se, “o céu começa em você” (Anselm Grün), crês isto?
Pe. Kleber Rodrigues da Silva
Nenhum comentário:
Postar um comentário