“Tendes em vós, os mesmos sentimentos de Cristo”
Reflexão do 26º Domingo do Tempo Comum
Percorrendo o caminho de edificação do Reino de Deus entre nós, chegamos ao 26º Domingo do Tempo Comum. É fundamental que a cada domingo temos algo a acrescentar em nossa vida de fé pessoal e comunitária. De algum modo precisamos ir para a celebração e voltarmos para a casa melhor, com motivações, perspectivas de mudança.
Cada encontro eucarístico deve ser uma oportunidade para descobrirmos quem é Jesus e a partir dele seguir o caminho missionário, de ascese. O convite para tomar parte é feito mais uma vez. Dizer o sim consciente e não o sim que é no fundo um não.
Na primeira leitura, o profeta Ezequiel (18,25-28), trabalha a superação de um pensamento muito enraizado na mente do povo exilado, de que toda aquela situação não era culpa deles, mas dos pecados dos seus antepassados e que são eles hoje que “pagam” por isso. O exílio deve ser visto pelo povo, como um espaço de aproximação com Deus. Reconhecendo a condição pecadora, aquele povo, entraria num caminho de conversão. É olhar o exílio, com os olhos de Deus e não com o rancor humano. Toda situação de sofrimento na vida, é também uma oportunidade clara de tomar um novo rumo existencial.
Ouvindo e acolhendo a mensagem de Paulo aos Filipenses (2,1-11), identificamos elementos que nos ajudam a viver comunitariamente a partir de um olhar interno. Considerando aquilo que esta em nosso entorno, com os pés no chão e coração em Deus, temos condições de seguir as orientações para uma vida onde constantemente somos chamados a sair de nós mesmos e sermos para os outros. Por isso, digo, que viver comunitariamente vai além de se ter uma “Paróquia” que frequente, que ajude nas atividades. É também perceber esta dimensão na família, no trabalho, na escola, com o vizinho.
Há um convite claro para iniciar este percurso: “tendes em vós os mesmos sentimentos de Jesus Cristo”. Para tal é preciso fazer um exercício descendente (de cima para baixo) e ascendente (de baixo para cima). Cristo realiza seu movimento descendente, esvaziando-se a si mesmo, não deixando que “sua condição divina, o sufocasse e o mantivesse distante do ser humano”, mas pelo contrário, na identidade humana ele diviniza o ser humano. Ele é “rosto divino do homem e o rosto humano de Deus”. Sentir o Cristo perto de nós é uma das condições para ter os mesmos sentimentos que Ele. Aqui caberia até uma pergunta: de que modo cada um sente a proximidade de Jesus?
O universo humano é tomado pelas limitações e pelo desejo de superá-las formatando a vida, aos mandamentos divinos. O esvaziar é um exercício constante. Não queremos tornar o nosso coração insuflado pelo gás Hélio (aquele que faz os balões subirem), queremos que ele esteja preenchido do espírito santo, que motiva a nossa ação. Procurar ter os sentimentos de Jesus Cristo, é ter coragem de dar um passo. Diz um dito popular que quando reconhecemos nossos erros, caminhamos 50%. Ai vem a relação, é querer ficar só no reconhecimento dos erros ou querer chegar aos 100%?
Olhando profundamente o texto, parece que Jesus esvazia-se até mesmo de sua divindade, engano nosso, sua divindade será expressa em suas palavras que comunicam vida (aqui poderíamos relacionar com o sentido do Verbo se fez carne e habitou entre nós). Para o esvaziamento, é preciso abrir-se. Virar no avesso e enxergar suas misérias.
Mas há ainda o segundo movimento, o ascendente (de baixo para cima). No exercício de seu esvaziamento, para o preenchimento da humanidade, Jesus recebe de Deus, a coroa da vitória, o título de Kyrios (de Senhor). Tendo sua identidade divina preenchida pelo Pai, em reconhecimento do seu esvaziamento, o Filho, é a alegria de Deus.
No contexto de nossa vida, o nosso movimento ascendente se dá com o amadurecimento da fé e a prática de atitudes: consolação, alento mútuo, comunhão, compaixão, harmonia, unidade, sem competição, sem vanglória, sem julgamento. Tende isso, como regra de vida, saberemos que nos aproximamos dos mesmos sentimentos de Cristo.
Por fim, no texto do Evangelho (Mateus 21,28-32) a construção do Reino passa pela atitude da Justiça. É perceptível que em Jerusalém, Jesus tem seus maiores conflitos com as autoridades que promovem a injustiça. A parábola de hoje se desenvolve neste contexto.
É interessante perceber a atitude dos dois filhos, mediante o convite para ir trabalhar na vida:
a) Primeiro Filho: impulsivo, responde com um não / há um processo de arrependimento / resposta amadurecida e convertida = Sim
b) Segundo Filho: educado, responde com um sim / não há esvaziamento de si / resposta vazia de vida = não.
O Pai espera uma resposta de compromisso, não uma atitude fundada no status social que a função exercida poderá trazer. Entendamos que todos os dias o Pai faz o convite a nós, seus filhos. Cabe a cada um dar sua resposta consciente.
Concluindo, recorro a uma canção do Padre Zezinho, que complementa a reflexão:
Um dia uma criança me parou,olhou-me nos meus olhos a sorrir.
Caneta e papel na sua mão,
tarefa escolar a cumprir.
E perguntou no meio de um sorriso
o que é preciso para ser feliz?
(Refrão)
Amar como Jesus amou,
Sonhar como Jesus sonhou,
pensar como Jesus pensou,
viver com Jesus viveu.
Sentir o que Jesus sentia,
sorrir como Jesus sorria
E ao chegar o fim do dia
eu sei que eu dormiria muito mais feliz.
Ouvindo o que eu falei ela me olhou e
disse que era lindo o que eu falei. Pediu
que repetisse, por favor, que não falasse
tudo de uma vez. E perguntou no meio
de um sorriso o que é preciso para ser feliz.
Depois que eu terminei de repetir, seus
olhos não saiam do papel. Toquei no seu
rostinho e a sorrir pedi que ao transmitir
fosse fiel. E ela deu-me um beijo demorado
e ao meu lado foi dizendo assim:
Bortolini, José. Roteiros Homiléticos. Paulus. 2008
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